Desses, 61% são aqueles chamados de plásticos de uso único, como itens descartáveis e embalagens não reutilizáveis, 22% são fragmentos de plásticos de vida longa, como brinquedos e utensílios domésticos, e 17% são apetrechos de pesca, como linhas de náilon das redes pesqueiras.
Das praias estudadas, 100% apresentaram resíduos em suas areias, e 97% delas tinham microplásticos. A identificação foi feita a partir da coleta de 16 mil fragmentos de microplásticos (aqueles com tamanhos entre 1 e 5 milímetros) e 72 mil macrorresíduos (fragmentos maiores do que 5 milímetros, como bitucas de cigarro).
Assim, a cada 2 metros quadrados de areia dessas praias há, em média, 10 partículas de microplásticos e 1 macrorresíduo. A praia de Pântano do Sul, no sul de Florianópolis, foi o caso mais grave: em apenas 1 metro quadrado de areia foram encontrados 17 resíduos e 144 partículas de microplástico.
Mas os dados são resultado da 1ª Expedição Ondas Limpas na Estrada, que reuniu 57 voluntários. Entre pesquisadores do Instituto de Oceanografia da USP (Universidade de São Paulo) e integrantes da ONG Sea Shepherd Brasil, com patrocínio da empresa Odontoprev.
Brasil Lixo Praia Plástico
A expedição percorreu todo o litoral do país, do Oiapoque (AP) ao Chuí (RS), num ônibus motor-home em que se revezaram equipes de sete pessoas, entre biólogos, oceanógrafos, coordenadores, documentarista e motorista.
Em conclusão os resultados da expedição foram lançados na quarta-feira (18) em São Paulo.
Contudo o relatório aponta que as praias da região Sul são aquelas com maior presença de microplásticos e de macrorresíduos plásticos. Tipo de material que surge também em grande proporção no Sudeste. Por outro lado, as praias na região Norte são aquelas com menor poluição plástica.
Portanto no recorte por estado, Paraná, Piauí e Pernambuco têm a maior quantidade de microplástico nas areias. Enquanto, Paraíba, Pernambuco e Paraná compõem o pódio dos macrorresíduos plásticos.
Em suma no outro extremo, as praias do Rio de Janeiro, Sergipe e Amapá são aquelas com menor concentração de microplásticos. Enquanto as do Maranhão, Piauí e Sergipe apresentam menor quantidade de macrorresíduos plásticos.
“Os dados das coletas realizadas nessas 306 praias nos dão um retrato sólido do que é o lixo nas praias no Brasil. E tem lixo em todo lugar”, explica Alexander Turra, professor do Instituto de Oceanografia da USP e coordenador da Cátedra Unesco para a Sustentabilidade do Oceano.
“Mostramos a onipresença dos resíduos plásticos de tamanhos grandes e de microplásticos, que são menores do que um grão de lentilha.”
Turra, da USP, destaca que o problema da poluição plástica no oceano é complexo e tem várias origens e, portanto, várias vias de solução. “O Tratado Global de Combate à Poluição Plástica, que está sendo negociado no âmbito da ONU e deve ser concluído em dezembro, deve trazer os principais instrumentos para combater esses problemas.”
Segundo o oceanógrafo, esses instrumentos passam pela redução do consumo do plástico, pelo aumento da reciclabilidade dos diferentes tipos de plástico. A partir de mudanças na composição dos materiais e no design de embalagens, pela racionalização do uso dos chamados plásticos evitáveis e dos plásticos problemáticos, além da amplificação dos sistemas de coleta e de reciclagem.
“Tudo isso também precisa ser complementado por programas de retirada dos resíduos que já estão nas praias e no oceano”, afirma.
Fonte: Folha.